A Müller e ao teatro universitário.
Trabalhar no teatro universitário é regressar às minhas origens. À minha escola inicial. Foi no T.U.M (Braga) que comecei há alguns anos atrás. Foi lá que actuei e encenei pela primeira vez. E este teatro é ainda um espaço de laboratório por excelência e um espaço para experiências. Para tentativas.
Lancei-me neste projecto para assumir riscos, para trabalhar com espaço para “falhar”, para aprender com os erros, para partilhar ideias e interrogar o meu papel enquanto criador. Tal como, escreveu Beckett: “ Falhar outra vez. Falhar melhor”.
Para o fazer escolhi Müller, também ele, um repetente para mim. Ele permitiu-me vasculhar nas memórias, nas minhas e nas dele. Assim reli as suas obras, entrevistas, reconstruí os seus passos, as suas crises e dialogámos sobre o fazer artístico.
Durante o processo de ensaios com as gentes do T.E.U.C, trocámos-lhe as palavras com os figurinos, ele trocou-nos as certezas; desenhamos-lhe várias vozes, ele colou-se-nos à pele; inscrevemos-lhe um novo tempo, ele deixou-nos entrar nas suas memórias.
Este trabalho é sobre as memórias as do público e as dos fazedores, as minhas e as tuas, as nossas.
Num momento em que tive a necessidade de repensar a minha forma de estar no teatro, em que quis apontar noutra direcção e fugir das delimitações que encontrei enquanto artista, foi importante regressar a casa e trabalhar com gente viva, gente com vontade e prazer em bruto.
A estes meus meninos agradeço a sua sinceridade e aquele brilho nos olhos que tanto falta a alguns profissionais.
Para mim o Teatro é um vício. É uma necessidade vital. É como o vício de rebentar aquelas bolhinhas de plástico. Começa-se e não se consegue parar. Queremos sempre mais uma “dose”.
Espero que este Müller os vicie.