Thursday, March 22, 2012

SHAKESPEARE PELAS BARBAS



Linhas de orientação do Espetáculo
1.       SHAKESPEARE.
Este espetáculo faz uma cartografia sobre o imaginário de Shakespeare e é fruto de um trabalho de pesquisa e re-leitura da obra do Bardo Inglês, baseado num processo de Devising, que envolveu a equipa do Teatrão. A nossa intenção não foi realizar um espetáculo com uma peça específica ou fazer um teatro compósito de textos/cenas de Shakespeare, mas sim gerar material com os actores a partir do imaginário de Shakespeare, cruzando com histórias da vida dos actores, absorvendo através dele, alguns dos dilemas do nosso tempo: Poder, Violência, Amor, Revolta, e claro, Sonhos.

2.       TODO O MUNDO É UM PALCO
A ideia é misturar a Arte e a Vida, colocando o Homem a relacionar-se consigo próprio e os seus dilemas. Este Homem inclui em si os Fazedores do espetáculo e o Público. Misturamos por isso em palco as incertezas do nosso tempo, as dúvidas, os becos sem saída, as tentativas, o erro, a falha, a procura. Procuramos com o espetáculo trabalhar neste mal-estar, obrigar-nos a recolocar-nos em questão, a pôr o dedo na ferida, e assim, usamos esta profissão de fé, não para professar verdades e certezas, mas para lançar perguntas, sinais da nossa existência, que nos guiem através do passado, através deste nosso enigmático Shakespeare, para com ele compreender melhor o Futuro, o nosso. Ainda há esperança? O que ainda procuramos? O que desejamos? Onde nos inscrevemos? Qual é a minha entrada? Ainda somos Heróis do nosso destino? Temos Saída?
3.       PLAY
Neste espectáculo os actores são apenas PLAYERS, um somatório de Actores/Jogadores, que se descobrem a jogar/representar. Para isso têm de ser cúmplices, e jogarem sem medo, sem previsão, sem certezas do resultado final. Salientamos que um jogo tem sempre dois lados, como o jogo da Glória: podemos ganhar ou perder, cada um de nós pode ser um rei ou um simples figurante da história, um nº 10 ou um suplente. Tudo é ambivalente, não significa que é melhor ou pior. É um jogo. E a descoberta desta dualidade faz-se a jogar. E Jogar é Representar, é só isso, como nos ensinou Peter Brook, e parece-me ainda o mais difícil de se fazer, pois temos de ser cúmplices e disponíveis para o Outro, como na Vida. Daí que este Shakespeare nos tenha dado água pelas Barbas!
4.        SER OU NÃO SER – EIS A QUESTÃO.
A ideia que subjaz a este espectáculo é falar do EU. O Eu e o Outro. Tal como as crianças expandimos a nossa identidade copiando os papéis dos outros, o da mãe, irmãos, heróis, inimigos, até mesmo das personagens de Teatro. No teatro estamos sempre a relacionar-nos com outros, que não são o Eu-próprio, mas ainda assim estamos a falar de nós? Ou esquecemo-nos neste intervalo do Real? O que é mais real o que se passa aqui no Teatro ou lá fora? Ser ou não Ser – eis a questão. Há quem viva, há quem não tenha vida própria. Tal como as figuras deste espetáculo, que não são personagens facilmente identificáveis, estão a poente do Drama, nem tão pouco sabemos o nome delas, são etéreas, indefinidas como os sonhos, condensadas de tantas peças de Shakespeare e das referências que nos chegaram a partir da re-leitura da sua obra, diria que elas têm algum parentesco com as figuras Beckettianas, na dúvida diria que são primas. Talvez estejam apenas como nós encurraladas nas suas incertezas, em tempos de rumores, mas sem rumo. Descobrem-se nas expetativas dos outros em relação a eles/nós próprios e nas suas/nossas próprias ambições. As questões podem Ser ou não Ser: Quais são os nossos sonhos? Qual é o teu Elsinore? Como nos superamos? Ainda vale a pena fazer teatro? O que esperam de ti os outros? Lutamos a favor ou contra essa expectativa? Que personagens de Shakespeare têm um destino semelhante ao teu? Onde estaremos daqui a 5 anos?

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